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Início - Conclusões

 

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Crônica conclusiva

1-A Razão

O amor que sentimos pelo rio Araguaia é que nos fez realizar essa Expedição. Sabemos que a natureza tem sido castigada sem piedade e para que emitíssemos um parecer sobre o que há de bom ou ruim, foi necessário empreender essa viagem.

2-Para entender um pouco

Há três décadas os proprierários de terras eram estimulados pelo governo, a custos subsidiados, a desmatar os cerrados e florestas que deram lugar a pastagens e lavouras. Essa ocupação foi feita sem nenhum critério e a mata ciliar dos córregos, ribeirões e rios foram em sua maioria desmatadas.
Pois bem, a vida de um grande rio, como o Araguaia, depende do estado em que a água dos seus afluentes chega a seu leito. Muitos peixes nascem nos pequenos riachos e viveiros naturais, tais como os lagos e lagoas, para mais tarde, quando crescerem um pouco, ganharem o grande rio, onde passarão suas vidas, voltando ao seu lugar de nascimento somente para desova.
Então, a preservação dos afluentes e afluentes destes destes últimos é tão ou mais importante do que o próprio rio, em si.

3-Aspectos físicos do rio

Com mais de 2.110 km. de extensão, nascendo a 850 m. de altitude, o Araguaia percorre regiões de cerrado e da Amazônia (floresta amazônica). Sua bacia abrange 364.400 km2, vindo a encontrar-se com o rio Tocantins quando tem um volume médio de 5.400 m3 de água por segundo, a uma altitude de 90 metros.
Em seu primeiro terço, o leito é de predominância rochosa, com muitas corredeiras e até quedas, mas essa característica, a partir de Araguaiana, cidade mato-grossense que fica a aproximadamente 180 km a montante de Aruanã, muda para arenoso, em planície de aluvião e com pouca declividade – cerca de 0,1%, ou seja, 10 metros a cada 100 km percorridos -. No seu último terço, a partir de Santa Maria das Barreiras, a jusante da ilha do Bananal, o leito passa a ser pedregoso e com incontáveis rápidos, que praticamente impedem a navegação no período de menor volume de água, que vai de junho a outubro e a topografia das margens é cercada de elevações. A partir de Xambioá, a declividade aumenta e também há a ocorrência de rápidos, destacando-se as cachoeiras de São Miguel e de Santa Izabel - esta última tem queda de 14 metros em 8 km -, cujo percurso transpusemos de barco.
No médio Araguaia, o rio transporta 300 mg/l de material em suspensão e no baixo curso, apenas 20 mg/l.

4-Alerta

Antes de discorrer sobre o que foi observado na Expedição, chamo a atenção do leitor mais uma vez sobre o estado dos afluentes, sua mata ciliar, a depredação via pesca predatória e caça.
O estado de conservação de um rio é o resultado da conservação dos seus afluentes. Nenhum rio será conservado e piscoso se formado por uma bacia em que os seus tributários estejam em más condições de conservação.

5-O que foi observado

Durante essa viagem de 1.500 km, que durou 21 dias, de Aruanã, GO, a Marabá, PA, encontramos natureza intocada, lugares razoavelmente conservados e também muita depredação.

5.1-Os ribeirinhos

Em todos os portos onde fizemos escalas, a todas as embarcações que abordamos, ficamos surpresos com a fineza e a solicitude de todas as pessoas com as quais tivemos contato, sem exceção. Houve ocasiões em que fomos levados a locais que buscávamos, pelo simples prazer de nos atender; de nos servir.
Em uma oportunidade, em que estávamos um tanto perdidos, já noite escura e praticamente à deriva, surgiu um barquinho cujo piloto, percebendo nossa situação complicada, desviou de sua rota e nos guiou a local seguro para que pudéssemos pernoitar. Vale ressaltar que o cidadão em questão havia sido ferroado por uma arraia há não muito tempo, mas mesmo assim não se furtou a nos auxiliar. Um gesto inesquecível!
Fica aqui nossa homenagem aos ribeirinhos, que tão bem nos acolheram.

5.2 - A pesca

Na região de Aruanã, apesar da gritante diminuição de peixes, ainda existe pesca profissional, apesar de proibida, a pesca com espinhel, que é altamente eficiente e predatória, é praticada assim como a pesca com redes e tarrafas. Os últimos exemplares de Piratingas estão sendo capturados com redes de arrastão. Se isso tudo é proibido e praticado, é muito fácil explicar: a fiscalização é ineficaz e quando surpreendido, o infrator raramente é punido e assim volta à atividade predatória.
A agressão ao meio-ambiente é tão grande que a população de Jacarés na região de Aruanã está praticamente extinta,. Uma pesquisa de campo contou apenas um exemplar a cada quilômetro do rio. Quem abateu esses animais tão importantes no controle da população de piranhas?
Em contraste às leis que regulam a pesca amadora em Goiás, encontramos em Pau D'Arco, no Tocantins, uma Cooperativa de Pescadores “Artesanais”, que tem até financiamento para comprar seus equipamentos de pesca.

5.3 – Os indígenas

Encontra-se, em Aruanã, a Aldeia Karajá Buridina, com certa de 150 habitantes. Seu Cacique, Raul Karajá, esforça-se procurando cultivar as tradições culturais de seu povo (povo INI, como se auto-denominam) mas a convivência com que principalmente os jovens tem com a população branca da cidade (a aldeia é cercada pela cidade) os influencia a ponto de poucos índios dessa aldeia saberem o idioma nativo e somente os mais velhos ostentam a tatuagem “omarurá” na face (círculo aplicado à maçã do rosto, característicos dos Karajá).
Já na ilha do Bananal há duas aldeias de grande porte, com mais de 1.500 índios nas duas. São elas a Aldeia Santa Isabel, próximo a São Félix do Araguaia e a Aldeia Fontoura, um pouco abaixo de Luciara. Visitamos as duas e ficamos surpresos ao constatar como eles valorizam sua cultura. As crianças aprendem em casa e na escola a língua nativa, e somente após esse aprendizado , na escola, aprendem o português. A assistência que recebem da FUNASA é de boa qualidade, assim como o ensino fundamental que também é muito bom. Apenas o saneamento e a conservação das moradias deixam bastante a desejar.
Na Aldeia Fontoura fomos convidados a presenciar a manifestação cultural mais conhecida dos Karajá, que é a Dança do Aruanã, que supõe colocá-los em contato com entidades espirituais. Nessa aldeia, em um momento de descontração, após a cerimônia, nos vimos envolvidos por uma curiosa atividade lúdica dos índios, quando as mulheres índias perseguem os homens, pintando suas faces com uma espécie de substância negra, provavelmente produzida com carvão vegetal, quando logram alcança-los. Não escapamos impunes a essa manifestação, para delírio de crianças, adultos e anciãos da Aldeia. Estivemos ainda na Aldeia Macaúba, outra Aldeia Karajá de razoável porte, localizada quase em frente a cidade de Santa Terezinha.
Existem ainda outras Aldeias da etnia Karajá, com pequenas populações, destacando-se o ramo dos Xambioás, que são Karajás que se fixaram no baixo Araguaia.
Na confluência do rio Tapirapés fica a aldeia do mesmo nome (Tapirapés). Sua população é de cerca de 500 pessoas e o seu dialeto é o Tupi.

5.4-As cidades

Vinte e cinco cidades estão situadas às márgens do Araguaia, mas somente oito tem alguma expressão. São elas: Aragarças/Barra do Garças, Aruanã, Cocalinho, São Félix do Araguaia, Caseara, Conceição do Araguaia, São Geraldo/Xambioá e Araguatins. Em Conceição tivemos a oportunidade de presenciar esgoto in natura, correndo a céu aberto, direto para poluir as águas do rio.
Não obstante, sob o ponto de vista sanitário, a qualidade das águas do Araguaia ainda não estariam comprometidas, apesar de fatos como o que relatamos no final do parágrafo anterior.

5.5-A hidrovia

A nosso ver a ideia de uma hidrovia no Araguaia é utopia natimorta. A AHITAR (Administração das Hidrovias Tocantins-Araguaia) talvez seja mais uma dessas grandiosas obras, que atendem mais a interesses insondáveis já que, navegando em barco de apenas oito metros e 20 cm. de calado foi difícil, em várias oportunidades, transpor os inúmeros travessões rochosos – que, como uma muralha, cercam o rio de uma margem a outra -, e ultrapassar imensas extensões de rasuras no assoreamento que tem caracterizado o Araguaia, mormente em seu trecho médio. É de se questionar: como seria a navegação de grandes embarcações, com calado superior a metro e meio? A característica fluida da areia em suspensão e os bancos móveis, típicos do Araguaia, inviabilizariam a mera dragagem nos trechos arenosos. Dragagem constante? Onde colocar toda a areia retirada? Os danos ambientais, de difícil mensuração e/ou previsão, seriam inevitáveis e inaceitáveis.
É de se supor que talvez pensassem em navegar apenas durante as cheias, mas o Araguaia somente fica com nível suficiente de janeiro a abril, ou seja, quatro meses apenas, por ano! Uma relação custo x benefício no mínimo discutível.
A inviabilidade da hidrovia no Araguaia é a única unanimidade que constatamos ao longo de toda nossa viagem. Ainda bem, pois que essa navegação de grandes comboios, de milhares de toneladas, fatalmente deslocaria um volume de água absurdo, cujas ondas, em colisão com as margens de pura areia, provocariam um assoreamento de proporções inimagináveis, gerando consequências ecológicas que iriam comprometer a contabilidade ambiental que pretendemos passar as futuras gerações.

5.6 -A Fauna

É o ponto crucial, onde o acesso é mais fácil, há menos peixes e animais silvestres. Nesses lugares é também mais fácil para o ribeirinho vender aquilo que caçou ou pescou. O trecho menos piscoso é, sem dúvidas, a região de Aruanã.
A região mais piscosa que observamos é também a mais isolada, ou seja, o trecho que vai da confluência com o rio Cristalino até a ponta norte da ilha do Bananal. Nesse trecho foi onde houve maior oportunidade de nos abastecermos de pescado para a cozinha do barco, onde vimos Capivaras, Ariranhas, Cervos, muitos e grandes Jacarés e onde até Onças rondaram o acampamento onde pernoitávamos.

5.7 – Efeitos de Tucurui

Os grandes bagres do Araguaia, as Piratingas (Filhote, Piraíba) e Dourados (não confundir com o Dourado do Pantanal, nem com a Dourada – Apapá -), peixes que podem ultrapassar 2,20 m de comprimento, podem ser considerados “em vias de extinção”. Segundo depoimento de pescadores profissionais, no baixo Araguaia, isto teria sido decretado a partir do fechamento das comportas de Tucuruí, em 1986. "De lá para cá, tornou-se quase impossível capturar um peixe desses acima da barragem, no baixo Araguaia e Tocantins", diz Chicão, guia e pescador profissional em Pontão. Sua ocorrência – notadamente a Piratinga – em alguns pontos próximos a ilha do Bananal é mera questão de tempo, pois teria sido quebrado o ciclo de desova desses gigantes do Araguaia.
Abaixo, transcreve-se parte de uma reportagem do Portal Brasil Oeste:
“A exemplo da UHE de Tucuruí (PA) e Lageado (TO), os impactos negativos advindos com a implementação destas grandes obras nas regiões amazônicas são:- Desaparecimento de algumas espécies de peixes (surubins, dourada, jaú etc),” fonte: www.brasiloeste.com.br
Isso, alem de ser um fator de desequilíbrio da cadeia alimentar, é também fator negativo na economia das comunidades ribeirinhas, que perdem um importante atrativo ao turismo que explora a pesca esportiva, com as características elogiáveis do “pesque e solte”.

6 -Conclusão

Vou usar uma palavra apenas, para definir o que falta para que o rio Araguaia, outros rios, florestas, enfim, toda a natureza sejam preservados:
EDUCAÇÃO
Não há fiscais em número suficiente que coíbam os crimes ambientais, as leis não são eficazes, mas com a educação vem junto a sabedoria, o combate ao egoismo, elimina a ignorância e ilumina as mentes.
Há uma grande deficiência de educação ambiental no nosso Brasil e isso tem que ser mudado. É necessário que cada um de nós faça sua parte, assim como estamos fazendo, através dessa pequena colaboração.
Vou citar um diálogo que tive com um Senhor muito cortês, porém ignorante:

- O Senhor pesca mesmo é com redes e tarrafas? - questionei...
- Sim – respondeu ele – não se consegue mais pescar somente com anzóis, então tenho que usar esses meios...