Amanheceu na ilha das Onças, como passamos a chamar nosso pouso de sábado, e com o amanhecer, aliás, um pouco antes, veio uma ventania muito forte. Chegamos a temer pelas amarras da canoa.

Enquanto tomávamos o café, Olegário e o Ivo contavam sobre a "farra" que as Onças haviam feito durante boa parte da noite. Segundo eles, pouco após nos recolhermos, uma ou possivelmente duas Onças atacaram um bando de Capivaras, cujos rastros vimos durante o dia, na praia. "Foi um pampeiro enorme, dizia Ivo, acho que a Onça tentou mas não pegou a Capivara, e deve ter ficado furiosa, pois esturrava e dobrava o esturro... ou então eram duas Onças cruzando...". O Paladini também confirmou a história. Parece que a, ou as, Onças de fato fizeram uma barulheira bem próximo de onde estávamos acampados. Não ouvi nada, pois dormi profundamente, a noite quase toda, até que a ventania, batendo na lona da barraca, me despertou. Mas aí já eram umas quatro e meia da manhã e a festa das "Pintadas" já havia terminado.

Retomamos a viagem às 09:10h. e continuamos descendo o rio, rumo à barra do rio das Mortes, que alcançamos sem maiores novidades por volta das 10:20h. Abaixo da barra, paramos na Pousada Kuryala, onde uma eficiente e receptiva funcionária nos recebeu e mostrou a qualidade das instalações, enquanto aguardávamos os proprietários, Sr.Gaspar e Sra.Salete, que haviam ido a São Félix.

Por volta das 11:00h. chegou o Sr.Gaspar, se interessando em conhecer os objetivos e levantamentos já feitos pela Expedição. Com grande prestimosidade, procurou nos orientar com relação ao que ainda temos pela frente, inclusive com uma avaliação mais exata da distância a percorrer até Marabá.

Chegamos a São Félix do Araguaia em torno do meio-dia fazendo contato com um índio piloto de aviação, o Vavá Karajá, que gentilmente nos orientou com relação a localização do Cacique Samuel Yriwana, quanto a um bom restaurante local.

Almoçamos fartamente, e ficamos admirados com o tratamento dispensado pelo garçon, que mais parecia proprietário da casa, tal o grau de gentileza e atenção que nos dispensava e aos demais Clientes. Após, fomos em busca do Cacique Samuel, mas para nossa surpreza, soubemos que ele havia viajado para Goiânia, juntamente com sua esposa. Nos orientaram a procurar o vice-Cacique Jamarrú, que talvez pudesse nos ajudar com relação a nossa intenção de visitar a Aldeia de Santa Izabel.

Fomos até o prédio da Funasa, onde nos disseram que poderímos encontrá-lo. Não estava, mas um funcionário daquele órgão governamental, nos pediu que aguardássemos um pouco que ele não tardaria a chegar. Dito e feito.

Jamarrú é um índio jovem e forte, baqstante alegre, de muito bom humor e inteligência aguçada. Demonstra preocupação com o estado atual e possibilidades futuras de sua gente. Parece estar sempre atento a possibilidades e oportunidades que possam garantir a preservação da cultura Karajá.

Nesse ínterim, foi providenciado o transporte que levaria nosso bom piloteiro Ivo de volta a Aruanã. Seu percurso e convivência conosco estavam terminados. Nessa noite, o acampamento esteve um tanto triste, ninguém disse nada, mas todos nós sentimos falta de seu riso alegre, disposição total e "causos" sempre prontos, na ponta de língua, animando nossa viagem até então.

Reabastecemos alguns víveres e por volta de 16:30h., após combinar com Jamarrú uma visita a aldeia Karajá de Santa Izabel do Morro, nos movimentamos para a praia em frente a São Félix, onde montamos nossas barracas para passar a noite.

Jantamos contemplando as luzes da cidade, um espetáculo bonito, na escuridão das noites do Araguaia, agora que a lua Cheia já se foi.

 

Veja imagens relativas ao oitavo dia da viagem.