No amanhecer dessa terça, desmontamos nossa acampamento fronteiro a São Félix e por volta de 08:15h. rumamos rio abaixo, em direção a Aldeia Karajá de Santa Izabel do Morro, onde já nos aguardava o Vice-Cacique Jamarru, com sua habitual simpatia.

Tendo nos recebido no porto da Aldeia, juntamente com o ex-Cacique e líder da Aldeia, chamado Koxini. Experiente e de bem mais idade que Jamarrú, Koxini discorreu sobre diversos aspectos da vida Karajá na Aldeia de Santa Izabel do Morro, em entrevista a José Olegário. Observamos sempre uma grande preocupação em relação ao contato com o branco, o problema da bebida, drogas e outras mazelas do algo complicado convívio.

Notamos também, na maior parte dos contatos que tivemos até aqui, uma preocupação em relação à questão da hidrovia no Araguaia. Não encontramos um único indígena sequer que fosse favorável a ideia, ou entendesse que tal obra possa trazer qualquer tipo de consequência favorável ás suas vidas ou aldeias.

Resolvemos também, nessas alturas, o problema de conseguir um guia/piloteiro que nos levasse pelo resto da viagem. O jovem Tekuala Sakriwa Karajá, de vinte anos e já pai de dois filhos pequenos. Muito atencioso, tem se mostrado muito competente no manejo da embarcação.

Em seguida, fomos até a escola da aldeia, onde um "enxame" de crianças indígenas nos cercaram, alegres e brincalhonas, em sua hora de recreio e lanche. Tomamos refresco e comemos pipocas junto com elas. Um momento de rara felicidade e descontração. Fomos recebidos pela Diretora Waxiaki, cujo depoimento sobre a forma de transmissão cultural e educacional ficou gravado em vídeo. Em paralelo com o aprendizado do português, é ensinado também a linguagem Karajá, fundamental fator na preservação cultural da etnia.

Após a visita, nos despedimos e prosseguimos viagem, almoçando em uma entrada de lago, bem abaixo de São Félix. Por volta de 16:30h. avistamos a Aldeia Fontoura, e para lá seguimos. Chegamos na Aldeia em um momento de rara felicidade, justamente no momento em que se preparavam para a dança do Aruanã, uma tradição forte na cultura Karajá. Fomos acolhidos sem reservas e convidados a assistir a cerimônia, por sinal não muito longa. Conseguimos obter permissão para fotografar a espécie de dança cerimonial e aspectos da aldeia, sem maiores restrições. Apenas a casa do Aruanã não devia ser fotografada; local sagrado para o Karajá.

Terminada a dança, conversamos bastante com o Caquique Mairú, sempre solícito, falando um português quase perfeito e sem qualquer problema de entendimento. No final, os índios iniciaram uma espécie de jogo, onde as mulheres tentavam pintar o rosto dos homens com uma tinta, aparentemente produzida com carvão e óleo. Uma correria danada, uns tentando pintar os outros... e nessa história acabou sobrando para nós. Tanto eu quanto o Paladini e o Olegário ganhamos nossa parte de tinta preta no rosto... em meio ao delírio das índias, índios e, principalmente, a criançada. Foi o fecho do dia. Um momento inesquecível na aventura que está sendo a expedição.

Armamos barracas em uma ponta de praia, alguns minutos abaixo da Aldeia Fontoura. Nesse acampamento consegui pegar meu primeiro peixe, um Mandubé não muito grande, mas afinal, um peixe. Jantamos e nos recolhemos, cansados, mas felizes com o proveitoso e movimentado dia.

 

Veja imagens relativas ao nono dia da viagem.