Ao amanhecer vimos a praia que não foi possível encontrar na noite anterior. Na verdade, uma praia enorme e bem em frente a cidade, como havia dito o Pedro "Leão". Bola pra frente... tomamos o café, desarmamos as barracas e fomos em direção a Pau D'Arco, na esperança de arranjar novo piloteiro, que conhecesse bem o trecho que temos pela frente, até Araguanã, ou quem sabe, Xambioá.

Esperança vã... Nosso "mui amigo" Leão se encarregou de cantar "que nem galinha poedeira", deixando-nos sem margem para negociar preço com os possíveis pilotos; na verdade, apenas dois e ainda por cima, irmãos. Não nos restou alternativa senão aventurar-se no dito perigoso trecho. E lá fomos nós, não sem uma ponta de preocupação com o que poderiamos ter de enfrentar.

Até pararmos para almoçar as coisas transcorreram relativamente bem. Erramos bastante o canal do rio e isto foi atrasando a viagem em muito, pois batiamos em rasuras constantes, com pedras espalhadas por todos os lados. Para atrapalhar, pegamos um forte banzeiro por volta de 11 horas, o que nos levou a decidir por antecipar a parada de almoço, o que fizemos em uma espécie de braço do rio.

Olegário preparou o restante da Tartaruga, adquirida na aldeia Fontoura para reforçar a alimentação do índio Tekuala. Comemos um excelente almoço e logo partimos para a jornada da tarde...

Acerta daqui, erra de lá, sentíamos a deficiência de não conhecer o caminho por onde ir; tudo era tentativa, na base do erro e acerto. Improviso.

Na passagem por Bela Vista (PA), um barqueiro nos orientou que iríamos pegar pelo menos um lugar que requeria cuidados. A corredeira ou cachoeira, no dizer dele, do Garimpinho. Alí, ainda segundo ele, devíamos tomar a passagem mais ao lado do Tocantins, que possivelmente poderia até ser descida com o motor suspenso, muito embora a água fosse correr um pouco. De fato, constatamos pelo meio da tarde, que o local era mesmo problemático; uma mini cachoeira mesmo.

Paramos no tal povoado de Garimpo do Jenipapo, ou simplesmente Garimpinho, como o povo diz, mas o encontramos vazio de almas e já pensávamos sair novamente quando avistamos um caboclo atravessando mais acima de onde estávamos, em uma canoa de madeira lavrada. Encostamos e perguntamos como passar na corredeira. O indivíduo confirmou que a descida devia ser feita por uma abertura mais ou menos larga, não totalmente na beira, mas mais para a margem do Tocantins. Iria correr um pouco mas dava para passar bem.

Tomamos o rumo do travessão e fomos tentando identificar o ponto por onde passar. Chegamos a um ponto onde haviam duas aberturas mais largas, todavia, a mim pareceu que estavam fora do que disseram tanto o barqueiro em Bela Vista, quanto o homem no Garimpinho. Estavam muito mais para o lado do Pará, na minha opinião, e foi exatamente pela abertura mais a esquerda, onde havia um caboclo pescando exatamente no limite onde as águas começavam a correr, que Olegário entendeu passar.

Ainda tentamos perguntar ao "sexta feira" que lá pescava se era por ali mesmo a melhor descida, mas o cabra não cheirou, nem fedeu... ficou de lá, com cara de idiota, olhando saltarmos pelas pedras abaixo, na fúria das águas que desciam revoltas. Foi um momento de bastante tensão, pois o barco pego uma pedra logo no início e o Paladini, que ia no piloto, ficou um pouco desnorteado a respeito de para onde girar. Nesse momento o motor bateu forte em outra pedra e subiu, deixando a embarcação sem propulsão.

Para nossa boa sorte, o pior já havia passado e muito embora rodássemos em cima do redemoinho da base da queda d'água, aos poucos fomos recuperando o domínio da situação. Um bom susto para todos nós, mas felizmente, nenhuma avaria no equipamento ou dano nos aventureiros do sertão do Araguaia.

Prosseguimos, ainda errando bastante o canal do rio, até que, por volta de 17:40h. nos orientamos para uma praia, a 34km distantes de Pontão, onde acampamos, jantamos e passamos a noite.

 

Veja imagens relativas ao décimo sétimo dia da viagem.